Amo o Outono, já vos tinha dito, mas amo mais quando este vem com aquele friozinho que só nos apetece acender a lareira e agadalharmo-nos no aconchego da nossa casa. E depois vem a parte melhor que é estarmos unidos à lareira e a contar histórias, a cozinhar com a panela de 3 pernos, o famoso pote do Norte.
Este sábado coloquei mãos à obra e fiz a famosa sopa de pedra, contando a história ao meu filhote que ficou pasmado como de uma pedra se fazia uma Sopa, então começou assim:
Andava um frade a pedir de
porta e porta.
Chegou à porta de uns
lavradores, que eram muito gananciosos e forretas e pediu, mas eles não lhe
quiseram aí dar esmola. O frade estava morto de fome, e disse:
-Vou ver se faço um caldinho
de pedra …
Então, pegou numa pedra do
chão, muito redondinha, sacudiu-lhe a terra e pôs-se a olhar para ela, para ver
se era boa para fazer um caldo. Os donos da casa puseram-se a rir do frade e da
atitude do mesmo. E diz-lhes o frade:
- Não me digam que nunca
comeram caldo de pedra? É do melhor, não há igual...
E os donos da casa
responderam-lhe:
-Sempre queremos ver isso! Era
o que o frade queria ouvir. Então, depois de ter lavado a pedra bem lavada,
pediu:
-Se me emprestassem aí um
pucarinho (o pote)…
Deram-lhe uma panela de
barro. Ele encheu-a de água e deitou-lhe a pedra dentro.
-Agora, se me deixassem
estar a panelinha aí ao pé das brasas…
Deixaram. Assim que a panela
começou a ferver, tornou ele:
-Com um bocadinho de banha,
é que o caldo ficava magnífico!
Foram-lhe buscar um pedaço
de banha. Ferveu, ferveu, e o povo da casa pasmado com o que viam. Entretanto
dizia o frade, provando a sopa: -Está um bocadinho insosso, bem precisava de
umas pedritas de sal.
Também lhe deram o sal e o
frade temperou, provou e disse:
-Agora é que, com uns
olhinhos de penca a sopa ficava que até os anjos o comeriam!
A dona da casa foi à horta e
trouxe-lhe duas pencas tenrinhas.
O frade limpou-as e ripou-as
com os dedos, deitando as folhas na panela.
Quando as pencas já estavam fervidas,
disse o frade:
-Ai, um bocadinho de
chouriço é que lhe dava o gosto todo…
Trouxeram-lhe um pedaço de
chouriço. Ele colocou na panela e, enquanto se cozia, tirou do bolso pão e
arranjou-se para comer com o seu vagar.
A Sopa cheirava que era um
consolo, comeu, até a panela ficar vazia.
Depois de vazia a panela, apenas
ficou a pedra no fundo. O povo de casa estava parvinho e disse:
-Ó senhor frade, então a
pedra?
- A pedra limpo e levo-a comigo para outra vez,
respondeu o frade. Ficando assim a famosa sopa de Pedra.
E assim comeu, onde ninguém lhe queria dar nada....Passemos à receita:
Ingredientes:
- 1 pedra redondinha desinfectada e bem lavadinha
- 1 bocado de feijão vermelho
- 1 bocado de orelha (não tinha coloquei rabinhos)
- 100 grs de entrecosto
- 1 naco de carne de vaca para cozer
- 50 grs de toucinho entremeado
- 1 chouriço
- Meia morcela
- 1 olho de penca
- 7 a 8 de batatas aos cubos
- 1 cenoura às rodelas
- 1 cebolas aos gomos finos
- 1 dente de alho
- sal q.b.
- 1 folha de louro
Preparo:
De véspera põe-se o feijão
de molho. No dia seguinte lavam-se as carnes e os enchidos e põem-se a cozer em
água e sal. Separadamente, põe-se também o feijão a cozer em água. À medida que
forem cozendo, vai-se retirando as carnes sucessivamente, para não se
espapaçarem, visto que a carne de porco coze muito mais depressa que a de vaca,
o mesmo acontecendo com a morcela em relação ao chouriço. Logo que se retirarem
todas as carnes, juntam-se cortadas em pedaços, a couve, as cenouras, a cebola,
os alhos picados, e algum tempo depois as batatas também em pedaços. Deixa-se
ferver tudo para apurar e rectifica-se de sal. Cortam-se as carnes de porco e
de vaca em bocados, os enchidos em rodelas e o toucinho em fatias. Deitam-se as
carnes na panela e, logo que levantar fervura, adicionam-se os enchidos e o
toucinho, servindo-se imediamente.
Nota:Por norma põe-se em cada
prato uma pedra redonda, mas previamente bem lavada,
no entanto não coloquei, mas da próxima coloco. Pois o filho perguntou pela pedra =D
Alguem é servido? Este pratinho deixo para voces...